segunda-feira, 4 de abril de 2011

Drunk


Tanto tempo longe de casa, sem ficar sozinha de fato, sem meu quarto pra ficar até meio dia dormindo, tendo que acordar cedo todos os dias, até nos fins de semana pra ver meu pai no hospital hospital hospital....
E agora eu tenho que me encarar, não tem mais como fugir nem me enganar de noite na lapa. Vida dupla. Eu precisava disso de fato.
Meu desejo de ser saudável é proporcional ao medo que eu tenho de estar muito longe disso, de encarar o quanto eu sou suja, que eu não mudei muito da garota adolescente do bar que eu fui. Eu achei que tinha mudado muito, mas eu acho que estava me enganando. Eu ainda sou a garota triste em conflito, que precisa de referencias e quer abrir mão de si mesma, que morre de vergonha e quer provar pra si mesma que é valente.
Eu me vejo como a garota bêbada. Eu odeio essa imagem, mas é sempre o que procuro, porque abri mão da minha vida, e nada vale a pena. Aos poucos eu enxergo que nem da bebedeira eu gosto, mas é que lá eu não sou julgada e me sinto mais à vontade. Eu queria me sentir à vontade no mundo, mas parece que eu não faço parte dele. Que eu não sou digna, é como na minha família, eu me sinto tão deslocada.
A minha valentia se resume a desmentir as teorias da sociedade. Ser do contra. Só que talvez essa sociedade já esteja enraizada ao ponto de eu ter toda essa vergonha de mim. Acho que talvez tudo que eu tenha feito até hoje, profissionalmente inclusive, foi pra me amostrar pra alguém. Desde a escolinha, eu sempre fui a geniozinho da sala, queridinha dos professores, que brigava por tudo, mimada e autentica. Mas como essa garotinha se tornou a garota suja do bar é que eu não entendo.
Em algum momento isso foi um desafio, hoje é meu algoz. Eu acho que eu me via muito sem graça. Eu era magrinha, ninguém se interessava por mim. Talvez eu tenha crescido com esse sentimento de inferioridade, de ser sempre a criança que não tem direito de se apaixonar. Eu não me achava nem um pouco atraente pros meninos e eu corria atrás deles de forma ridícula, mas nem percebia que eu estava sendo ridícula, eu achava qualquer coisa muito bom, não achava que eu merecia muito. Até que, aos poucos, sozinha, eu fui encontrando minha libido e descobrindo meus atrativos.
Minha mãe eu via como chefe da casa, não como mulher. E não tem como fugir muito disso, minhas referências foram essas. Traições me doíam, mas eu via que era praticável. Os extremos de ser interessante e vagabunda ou sem graça e santa. E a mulher batalhadora que eu até hoje fico tentando impressionar e ser igual, minha mãe.

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